sexta-feira, março 26, 2010

(Se calhar, ando a precisar de férias)

Há duas maneiras de fazer coisas na vida: fazê-las certas pelos motivos errados; fazê-las erradas pelos motivos certos. Se calhar há mais maneiras de fazer as coisas na vida e eu estou apenas a escrever as coisas erradas. Mas faço-o pelos motivos certos. Esta ideia, este jogo de palavras meio macaco, surgiu-me quando uma outra ideia ganhou consistência na minha cabeça. A de que uma pessoa, neste modo binário e errante de fazer coisas, vai progredindo na existência - pelo menos, até que o erro seja demasiado e o fisico acabe por falhar. Poderia chamar a isto “aprendizagem pré-mortem”, mas chegar-me-ia demasiado perto de um lugar-comum. Não há aqui aprendizagem nenhuma. Aprender permite eliminar o erro. Eu parto do princípio que o erro está sempre aqui, comigo. Uma coisa interessante deste texto. Não, duas coisas interessantes neste texto são: 1) sabendo que está errado – ainda que o erro possa ser apenas parcial -, eu continuo a escrevê-lo; 2) se você está a lê-lo, então você está a lê-lo. Tem a sua graça. E ocorreu-me agora os criminosos. Esses fazem as coisas erradas pelos motivos errados, dir-me-ão. Aí começamos a entrar no campo da subjectividade, respondo eu. E, com este argumento, poderia puxar toda esta minha minúscula teoria para um estado de rarefacção argumentativa que roçasse o ininteligível. Mas não divaguemos. Foquêmo-nos nos criminosos. A criminalidade, sobretudo a violenta – que violenta? A escabrosa! A horrorosa! A inumana! – ocupa um lugar de fascínio no pedestal onde costumo depositar as ideias. A capacidade de articular, dentro de um marginal, de um indigente, de um mafioso, de um psicopata, enfim, de uma pessoa “socialmente iníqua” duas variantes de conjuntos de “certo e errado” com permissas que nunca poderão encontrar-se, assim, até ao infinito, é algo que me deixa tremendamente feliz com o ser humano. Eu hoje não estou particularmente feliz. Longe disso. Mas precisava de algo que me fizesse orgulhar de mim. E então escrevi isto. Pode não estar certo. Mas é bonito. O ser humano é um erro incompleto perpétuo.