De faca e garfo
Segurar na alma é como segurar num garfo. Há regras para manuseá-lo, mas eu, que nunca tive etiqueta, nunca sei quais são os modos correctos. Também nunca sei a que me vai saber aquilo que vem lá na ponta. O que me salva é a faca. Que corta. Cortar é bom. Desfazer as coisas, dividi-las em pedaços, torná-las pequenas, mastigáveis, assimiláveis, digeríveis.
Às vezes o garfo parece escorregar das mãos. Não querer lá estar. Não querer ser arma de caça para o que pretendo trespassar de um só golpe, não querer ser cúmplice da faca dilacerante, não querer fazer daquele gajo possante que agarra no outro pobre que vai levar socos no estômago sem poder ripostar. Até sangrar. Por dentro e pela boca, também.
Às vezes isso da alma é um objecto que escorrega e me sai das mãos. E depois fico a pensar “ai, se aquilo me cai e se estraga tudo” e o pior é se aquilo cai e, sem que se estrague, já fica fora de mim, ali longe. E nem com um garfo a apanho. E depois? A alma, quando cai, já não se lhe pega. É como a vida. Passa uma vez e puff. O resto são memórias e expectativas por concretizar.
Às vezes o garfo parece escorregar das mãos. Não querer lá estar. Não querer ser arma de caça para o que pretendo trespassar de um só golpe, não querer ser cúmplice da faca dilacerante, não querer fazer daquele gajo possante que agarra no outro pobre que vai levar socos no estômago sem poder ripostar. Até sangrar. Por dentro e pela boca, também.
Às vezes isso da alma é um objecto que escorrega e me sai das mãos. E depois fico a pensar “ai, se aquilo me cai e se estraga tudo” e o pior é se aquilo cai e, sem que se estrague, já fica fora de mim, ali longe. E nem com um garfo a apanho. E depois? A alma, quando cai, já não se lhe pega. É como a vida. Passa uma vez e puff. O resto são memórias e expectativas por concretizar.
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