Coisas que todas as pessoas deviam experimentar em casa
Via os vídeos no youtube, lia jornais sensacionalistas, acompanhava os desenvolvimentos mais profundos nas revistas para donas de casa: o meu fascínio pelo paranormal aumentava. O que mais me maravilhava era a fé inocente que aqueles magos, profetas, prestidigitadores, bruxos ou mediúnicos ostentavam, esbanjavam até. A humanidade precisa de inocência. A humanidade precisa de voltar a não ter culpa. Passamos a vida a ser educados como pecadores que um dia hão-de responder pelas suas culpas. Mas o homem nasce inocente.
Este nicho, estas pessoas de mentes aladas, passaram a constituir para mim como que uma reserva natural imune à consciência do real, do que é negativo, da falta de esperança, da certeza de um inferno. Eles, ao invés, presenteavam-me com a sua crença, a sua esperança sem sentido.
Eu observava-os a invocar anjos, a tentar mexer canetas com o pensamento, a adivinhar o fim de qualquer coisa ou um evento qualquer extraordinário. Eles confortavam-me com o seu mundo anti-depressivo. Ou, na maior parte das vezes, divertiam-me.
Aliás, no começo, eu limitava-me a achá-los engraçados e ridículos. Sem jeito, sem juízo. E isso fazia-me rir. Mas demorei pouco tempo a trocar o riso escarninho por outro riso, mais enternecido. Pouco depois, passei a sorrir complacentemente. Até que me aproximei da essência daqueles a que chamei “os salvadores”. As pessoas do paranormal. Foi então que dei por mim a ter comportamentos menos habituais.
A curiosidade levou-me a um estado de quase inveja daquelas pessoas. Mas por que é que ele consegue dobrar uma colher com o olhar e eu não? Por que é que aquela senhora é perseguida por torres de betão e a mim nem os cães me seguem? E o rapaz constantemente sequestrado por alienígenas, o que é que ele tem que eu não tenha? Comecei a sentir-me inferior. A frustração crescia em mim e emparelhava com a angústia – a angústia de não ter esperança de, um dia, vir a ter poderes. Poderes a sério.
Por mais que tentasse, a minha realidade não se transformava num limbo especial. Eu continuava a não ser especial. Tinha o meu físico e a minha mente e era com isso que tinha de contentar-me. Essa clausura em dois espaços mas num tempo só. Eu não conseguia abrir o frasco do café com palavras mágicas seguidas de “um, dois… três!”. Eu não conseguia fechar as torneiras com o olhar. Eu não acertava sequer nas estrelas do Euromilhões. Nunca, nem numa!
Mas hoje tudo mudou. De manhã, fui á casa-de-banho e disse para comigo “Bran, tu tens de conseguir”. E estava aflito, mas nem assim cedi á tentação – tão comum dos mortais - de recorrer ao gesto físico. Concentrei-me, fixei os meus pensamentos na tampa da sanita. E sei que vou conseguir levantá-la. Eu tenho fé em mim. Eu sei que tenho talento e que hoje é que é o dia. Eu sinto, eu pressinto que estou quase a conseguir movê-la. Vou buscar a máquina para filmar isto e pôr no youtube.
Este nicho, estas pessoas de mentes aladas, passaram a constituir para mim como que uma reserva natural imune à consciência do real, do que é negativo, da falta de esperança, da certeza de um inferno. Eles, ao invés, presenteavam-me com a sua crença, a sua esperança sem sentido.
Eu observava-os a invocar anjos, a tentar mexer canetas com o pensamento, a adivinhar o fim de qualquer coisa ou um evento qualquer extraordinário. Eles confortavam-me com o seu mundo anti-depressivo. Ou, na maior parte das vezes, divertiam-me.
Aliás, no começo, eu limitava-me a achá-los engraçados e ridículos. Sem jeito, sem juízo. E isso fazia-me rir. Mas demorei pouco tempo a trocar o riso escarninho por outro riso, mais enternecido. Pouco depois, passei a sorrir complacentemente. Até que me aproximei da essência daqueles a que chamei “os salvadores”. As pessoas do paranormal. Foi então que dei por mim a ter comportamentos menos habituais.
A curiosidade levou-me a um estado de quase inveja daquelas pessoas. Mas por que é que ele consegue dobrar uma colher com o olhar e eu não? Por que é que aquela senhora é perseguida por torres de betão e a mim nem os cães me seguem? E o rapaz constantemente sequestrado por alienígenas, o que é que ele tem que eu não tenha? Comecei a sentir-me inferior. A frustração crescia em mim e emparelhava com a angústia – a angústia de não ter esperança de, um dia, vir a ter poderes. Poderes a sério.
Por mais que tentasse, a minha realidade não se transformava num limbo especial. Eu continuava a não ser especial. Tinha o meu físico e a minha mente e era com isso que tinha de contentar-me. Essa clausura em dois espaços mas num tempo só. Eu não conseguia abrir o frasco do café com palavras mágicas seguidas de “um, dois… três!”. Eu não conseguia fechar as torneiras com o olhar. Eu não acertava sequer nas estrelas do Euromilhões. Nunca, nem numa!
Mas hoje tudo mudou. De manhã, fui á casa-de-banho e disse para comigo “Bran, tu tens de conseguir”. E estava aflito, mas nem assim cedi á tentação – tão comum dos mortais - de recorrer ao gesto físico. Concentrei-me, fixei os meus pensamentos na tampa da sanita. E sei que vou conseguir levantá-la. Eu tenho fé em mim. Eu sei que tenho talento e que hoje é que é o dia. Eu sinto, eu pressinto que estou quase a conseguir movê-la. Vou buscar a máquina para filmar isto e pôr no youtube.
1 Comments:
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Se eu preciso de saltar uma vedação e a minha mente diz essa vedação é muuuito alta para ti, eu fico no limbo, entre um lado e o outro, e realmente não salto.
O meu corpo não se mexe porque a minha mente já calculava.
Se vejo operações médicas na televisão, hora vulnerável, entranhas de alguém cá p'ra fora... a cor daquele sangue, à minha mente, talvez vá lembrar aquela vez em que eu, com 3 anos, lavei os dentes com a gillette do meu pai.
O meu corpo desmaia porque a minha mente não quer ver outra vez aquele encarnado.
Por isso, a minha mente até é muito poderosa, mas normalmente é para fazer com que as coisas não mexam. É uma espécie de magia, mas negra.
Daí crer que o que me tornaria mesmo especial seria ter o super-poder de não a usar sempre que quisesse fazer acontecer! A vontade não precisar de passar pela mente e, ainda assim, o corpo obedecer à vontade. Se eu um dia conseguir isso ou qualquer outro tipo de proeza, venho aqui mostrar o vídeo.
Mas desconfio que fazer mexer canetas, levantar tampas de sanita sem lhes tocar... talvez só não tenhas conseguido por não desejar muito.
(deixa esses truques para os que se ficam por essas apetências...)
Paranormal para mim, seria eu conseguir controlar-me a mim própria, toda eu, que sou um universo; quanto mais as canetas, fins-do-mundo ou lotarias.
O paranormal devia, portanto, acontecer de dentro para fora!
O desejo não faz tudo mas acreditar numa coisa já nos deixa a realidade com as portas e as janelas abertas. Ah, e as vedações mais baixas! Acreditar muito numa coisa até nos transforma a realidade. Mesmo que seja verdade só para nós, é verdade na mesma, ou não?
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