A Viagem
Esta cidade cheira mal
vamos embora.
-Para onde vamos?
podemos ir para o Alasca
no pico de uma estação intermédia qualquer
apanhamos um autocarro
um comboio a vapor
ou vamos a pé
-O ar está pesado
sim, o ar está húmido
o céu está escuro
-Quando é que partimos?
vamos esperar o sol bolorento de amanhã
o arrepio matinal
de acordar e não ter caminho
de calçar as meias lavadas na máquina de lavar nova
de comer um pastel de nata à pressa
e tomar o autocarro em vez do café
vamos aguardar que chegue o cansaço
numa bruma feia
a saturação da chuva
o frio da lareira que já está gasta
-Mas vamos para onde?
também já pensei nas praias primitivas
onde até os cocos são pobres
e as ondas são minúsculas
a água será quente
e não dará para beber
mas dá para tomar banho
e os peixes serão extremamente violentos
- quase tanto quanto os transeuntes da cidade
mas não me sai da cabeça o Alasca
e o seu escamudo
mas tu não gostas do Alasca
-Odeio o frio e o Alasca é longe demais
não vamos para o Alasca, pronto!
partiremos talvez sem rumo
que o desconhecido é um lugar imenso
leva meias e cuecas de reserva - podemos demorar
leva o álbum de fotografias
do teu baptismo
eu levo as do meu
leva as últimas lágrimas da família
as últimas palavras dos amigos
leva o toque das paredes da casa
o cheiro do quintal das traseiras
o ruído engasgado da campainha - podemos ficar por lá
e
quando desceres
traz o saco do lixo e as garrafas para pôr no vidrão
vamos embora.
-Para onde vamos?
podemos ir para o Alasca
no pico de uma estação intermédia qualquer
apanhamos um autocarro
um comboio a vapor
ou vamos a pé
-O ar está pesado
sim, o ar está húmido
o céu está escuro
-Quando é que partimos?
vamos esperar o sol bolorento de amanhã
o arrepio matinal
de acordar e não ter caminho
de calçar as meias lavadas na máquina de lavar nova
de comer um pastel de nata à pressa
e tomar o autocarro em vez do café
vamos aguardar que chegue o cansaço
numa bruma feia
a saturação da chuva
o frio da lareira que já está gasta
-Mas vamos para onde?
também já pensei nas praias primitivas
onde até os cocos são pobres
e as ondas são minúsculas
a água será quente
e não dará para beber
mas dá para tomar banho
e os peixes serão extremamente violentos
- quase tanto quanto os transeuntes da cidade
mas não me sai da cabeça o Alasca
e o seu escamudo
mas tu não gostas do Alasca
-Odeio o frio e o Alasca é longe demais
não vamos para o Alasca, pronto!
partiremos talvez sem rumo
que o desconhecido é um lugar imenso
leva meias e cuecas de reserva - podemos demorar
leva o álbum de fotografias
do teu baptismo
eu levo as do meu
leva as últimas lágrimas da família
as últimas palavras dos amigos
leva o toque das paredes da casa
o cheiro do quintal das traseiras
o ruído engasgado da campainha - podemos ficar por lá
e
quando desceres
traz o saco do lixo e as garrafas para pôr no vidrão
3 Comments:
Bonito!
*clap clap clap*
Há aqui um Boris Vian meets Carlos Bukovski.
pode ser o alaska...já tou por tudo..
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